Vida saudável

Por quilos a menos e mais saúde

Para frear a obesidade entre os adultos, Brasil aposta em alimentos naturais e na diminuição do açúcar à mesa

Um desafio audacioso: diminuir a obesidade entre adultos até 2019. Esse é o compromisso assumido pelo Brasil durante um evento da Organização Mundial da Saúde (OMS) realizado este mês na capital federal. Para atingir o objetivo, três metas centrais foram elencadas pelo Ministério da Saúde (MS): a criação de políticas de saúde e segurança alimentar, a redução do consumo de refrigerantes e sucos artificiais por ao menos 30% da população adulta e a ampliação no consumo de frutas e hortaliças em 17,8%.

A iniciativa foi tomada após a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) apresentar um estudo sobre o aumento de peso entre a população da América Latina, que aponta que quase um quarto das pessoas está obesas. O mesmo levantamento diz que 20,8% dos brasileiros estão acima do peso considerado ideal para sua faixa etária e composição corporal. O sinal de alerta foi aceso.

O MS proibiu a venda e a propaganda de alimentos industrializados ultraprocessados em suas dependências e a proposta é estender essas regras aos demais órgãos da administração direta federal. O governo lançou a campanha Brasil Saudável e Sustentável para promover acesso à informação e sensibilizar consumidores, agricultores e mercado sobre os benefícios da alimentação saudável, além de divulgar práticas alimentares saudáveis nas redes públicas de saúde, educação e assistência social. Está em andamento um acordo com a indústria que visa reduzir açúcar em alimentos processados, a exemplo do que vem sendo feito com o sódio nos últimos quatro anos e que resultou na retirada de 14 mil toneladas do componente de alimentos processados. No entanto, a iniciativa com maior reconhecimento ocorreu em 2014, com a publicação do Guia Alimentar para a População Brasileira.

Contudo, o compromisso assumido pelo Brasil não é fácil. “Dois anos é um período muito curto. Decretar uma meta não fará a população adequar os hábitos”, opina a professora de Nutrição da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Juliana Vaz. Em sua pesquisa, realizada entre 2015 e 2016 dentro do Programa de Pós-graduação em Epidemiologia, ela descobriu que dos 3,8 mil pelotenses entrevistados com até 22 anos, 43% estavam acima do peso desejado. A professora entende que para auxiliar a população, o Poder Público precisa investir mais nos programas de alimentação e nutrição, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar, em restaurantes populares, em atenção nutricional e em ações de saúde via SUS.

Pelotas na frente
Em Pelotas as iniciativas de promoção aos hábitos saudáveis são adotadas há alguns anos. Desde 2014 o setor de alimentos da Vigilância Sanitária tem o projeto Restaurante Amigo da Saúde, que incentiva a educação alimentar e nutricional da população que faz suas refeições nos restaurantes do município, conta a coordenadora Martha Monks. O Guia de Boas Práticas Nutricionais da Anvisa é a base para as ações que orientam o preparo de alimentos com menor teor de açúcar, sódio e gorduras, e concede um selo do projeto para os participantes, explicou Martha. “Os profissionais da vigilância visitam os restaurantes e ajudam na adaptação”, acrescenta.

A adesão ao projeto é gratuita e atualmente todos os restaurantes industriais, o Restaurante Popular e alguns estabelecimentos privados participam. Cada proprietário aplica as orientações dentro das possibilidades de seu cardápio, não existe uma regra. Entre quem aderiu ao projeto as principais mudanças foram a diminuição do buffet de sobremesas e a oferta de mais frutas, a troca de pratos fritos por assados e até a retirada de saleiros de cima das mesas. Martha conta que a principal motivação para o Restaurante Amigo da Saúde foi a preocupação com quem realiza suas refeições fora de casa e muitas vezes não tem tempo para preparar algo nutritivo. “É o restaurante como veículo de saúde pública”, afirma.

Dentro da Secretaria Municipal de Saúde, 15 nutricionistas trabalham diretamente nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Elas organizam grupos com moradores, trabalhando desde a alimentação saudável até doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e obesidade, informa a nutricionista Rosane Ferreira da Silva. Algumas realizam oficinas em escolas, além de atender os encaminhamentos para consultas.

Caminhos possíveis
A corrida contra a obesidade já começou em outros países da América Latina e as adaptações feitas podem servir de modelo ao Brasil. Conforme relatório da FAO e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Barbados, República Dominicana e México aprovaram impostos para as bebidas açucaradas; Bolívia, Chile, Peru e Equador contam com leis de alimentação saudável que regulam a publicidade e os rótulos dos alimentos.

A Bolívia também possui um decreto que estabelece o Subsídio Universal Pré-natal pela Vida, proporcionando que grávidas carentes recebam cestas de alimentos com produtos de alto teor nutricional, a partir dos cinco meses de gestação até o parto, com o intuito de diminuir o índice de mortalidade materno-infantil e garantir uma alimentação saudável. O Paraguai colocou em vigência a Estratégia Nacional para a Prevenção e Controle da Obesidade. O plano com duração de dez anos prevê marco regulatório para os alimentos, fiscalização, pesquisa e informação. Mesmo que cada país tenha necessidades específicas, essas experiências podem beneficiar também os brasileiros, e apesar de não interferir nas políticas adotadas, a FAO oferece suporte técnico especializado e apoio nas demandas apresentadas.

Novos hábitos
O caminho para uma vida mais saudável passa pela reeducação. Evitar os alimentos ultraprocessados, como embutidos e congelados, e adotar um prato mais natural é uma das estratégias apontadas pela nutricionista Luisiana Liermann. O acompanhamento de um profissional também é essencial, pois o histórico de cada pessoa precisa ser considerado antes de qualquer mudança, “não é apenas emagrecer, é qualidade de vida”, diz. Outras ações recomendadas por ela são a leitura atenta dos rótulos de industrializados, para que as pessoas descubram exatamente o que estão consumindo e façam melhores escolhas, e o resgate de hábitos antigos como a preparação de marmitas, que no cotidiano evitam que se recorra aos pratos prontos processados. “Diminuir a obesidade não é impossível, mas precisa de esforço”, enfatiza Luisiana.

“É aprender e descobrir sabores”, conta a professora Maritza Freitas, 57, que há 20 dias iniciou o processo de reeducação. Mesmo praticando exercícios ela sentia mal-estar e cansaço, e apresentando histórico familiar de diabetes e hipertensão resolveu que estava na hora de cuidar mais da alimentação e procurar ajuda. Nesse período ela aumentou a variedade de frutas e verduras no cardápio, bebe mais água e sucos naturais, perdeu dois quilos e voltou a ter disposição. Para Maritza, que agora é mais atenta ao que come, a maior mudança foi de pensamento. “A alimentação não pode ficar em segundo plano”, ressalta ela, que não quer apenas emagrecer, e sim ter uma maior qualidade de vida e longevidade.

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